Prólogo
Eu acordara naquela manhã um pouco entorpecido, minha janela que batia incessantemente devido ao vento que uivava como lobos, talvez fora a causa do mal estar que sentia, afinal não costumava acordar tão cedo – as quatro da manhã – e por estranho que parecesse, ainda que não estivesse me sentindo bem, eu me sentia confortavél. O vento assoviava quase que em um tom ensurdecedor, mas aquilo realmente não me incomodara. Tudo estava escuro , minha visão negra e desfocada, não enxergava um palmo a minha frente, então acendi a lamparina velha que havia ganhado de minha avó, era velha mas fazia seu trabalho. Sua tocha era fraca como de costume e devido ao meu relaxo havia manchas de sujeira que causavam sombras no quarto. Assim que me levantei me senti pesado, como se carregasse algo sobre a cabeça, naquele ponto já comecei a acreditar que tivesse pego algum resfriado ou virose, mas ainda sim continuava me sentindo extremamente confortavél. Enfim fui até a janela para dar uma olhada no tempo, olhei para o céu e me assustei, algo não estava certo , as nuvens estavam negras e carregadas, porém pareciam formar rostos em expressões de agonia e desespero – era de deixar qualquer um boquiaberto – o frio consumia minha pele adentrando-se em mim como um veneno e o ar estava pútrido, fedia como as carcaças que os caçadores da região costumavam deixar no interior da floresta.- Malditos caçadores, aposto que andaram caçando pelo vale.Era proíbido caçar próximo á vila, mas naqueles dias os caçadores andaram abusando das regras da vila – eu já começara a entender o meu mal estar – mas ainda sim havia algo mais estranho no ar que tentava entender. Fui até a cozinha , estava com fome, e decidi preparar o meu café da manhã, não conseguia comer muito pela manhã, então como de costume tomava uma xícara de café preto e comia um pedaço de bolo de vinho doce que aprendera a fazer com minha avó. Porém um estrondo interrompeu o meu desjejum. - Hora essa, mas o que será que está se passando nessa vila? . – disse a mim mesmo. – parece que vai ser um dia daqueles.Retornei a janela para ver o que acontecia, olhei para os lados, olhei rumo a casas dos Van lars – aquela família estava sempre causando confusão , com excessão de Anne - nada havia, mas podia sentir cheiro de confusão vindo de lá. Comecei a me preocupar com Anne – ah sim, Dianne, Dianne Van Lars , a garota mais meiga e generosa que havia conhecido, sentia um amor platônico por ela mas sabia que ela nunca iria me notar, pelo menos não o quanto a admirava. - foi então que me virei rumo a porta e me deparei com aquilo.Havia aquele homem , na verdade não sabia se era um homem ou uma mulher, mas havia aquele sujeito parado na minha frente, vestia um manto negro e seu hálito tinha o mesmo cheiro pútrido que havia sentido mais cedo. Eu fiquei paralisado, não conseguia me mover e aquele frio venenoso começava a tomar conta de mim novamente, o peso que sentia sobre minha cabeça começara a ficar mais e mais pesado. Era doloroso ficar de pé, eu quase que podia sentir a alma do sujeito, me chamando, clamando pela minha alma, minhas lembranças boas pareciam estar sumindo da minha mente e sentia como se minha vida estivesse no fim. Caí sobre o chão úmido, mal conseguia respirar, sentia o frio na minha garganta congelando tudo por dentro e expandindo-se como os espinhos das roseiras da vila. O individuo deu um passo a frente e senti meus olhos arregalarem, pude ver sua mão, negra e magra e parecia vestir couraças como se fossem parte de uma armadura , suas unhas pareciam estar podres e insetos caminhavam sobre a mão dele . Havia mariposas negras voando ao redor da coisa. – aquele sujeito não pertencia ao mundo dos homens. – O medo já havia tomado conta de mim por completo, naquele dia sabia que não veria Dianne e nem a vila mais.